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SESC GALERIA "ANTIGO MAPPIN"

Localização           

São Paulo, SP

Área Construída    

15.652 m²

Ano do Concurso     

2025

Cliente   

SESC São Paulo e IABsp

Autores

FIGUEROA + MCAA 

Mario Figueroa,

Daniel Maioli,

Gustavo Bondezan, Carlos Antunes,

Rogério Conde;

Andrea Castanheira; Carol Moreira e

Marcelo Ojeda

Equipe

Gabriel Taniguchi,

Pedro Paes,

Thiago Guimarães, Marcial de la Cruz Cartes

Érica Bernabé Takanashi

Consultores

Restauro (Ambiência)

Ana Marta Ditolvo e Jacqueline Antunes

Estrutura e Fundações

Ricardo Dias

Instalações de Climatização, Elétrica e Hidráulica

MHA Engenharia |

Julio Henrique Pelosini,   

Edison Domíngues Júnior,

Raymond Liong Houw Khoe,

Edmar Nacaratti,

Luiz Roberto Soares e Fabiano Editore

Prevenção e Combate a Incêndios

AF |

Ana Flores e

Palloma de Sousa

 

Luminotecnia

DLLD |

Douglas Leonard,

Camila Egenau,

Catalina Pradenas e Nicole Rojas

Materiais Sustentáveis

MateLab |

Carol Piccin

Circulação Vertical

Dr. Elevador |

Celso F. de Santanna e Ricardo Gasparini

Cozinhas Industriais

Macon |

Laércio Simões Rocha 

Paisagismo

Felipe Damasio

Orçamentação

Mauro Zaidan

 

2025  |  2º Prêmio Concurso Nacional Sesc de Arquitetura: Unidade Galeria - São Paulo

UMA VITRINE PARA O SESC SÃO PAULO


SESC GALERIA E O CHÃO DA CIDADE 

A implantação de uma nova unidade SESC no ‘Centro Novo’ de São Paulo representa de maneira exemplar, mais uma vez, a história da lógica paulistana da construção do seu espaço coletivo. A partir de um esforço importante, e geralmente a partir de arquiteturas de caráter privado e com responsabilidade urbana, surgem lugares únicos de múltiplas possibilidades de passagem e permanência que enriquecem a experiência de vida na cidade.


Nesse sentido, o chão da cidade será estendido para dentro do SESC Galeria com uma dimensão urbana que se multiplica através do conjunto de galerias e espaços intra-quadras existentes, estimulando a vitalidade das dinâmicas urbanas. No fortalecimento desse partido, trazemos a materialidade do chão do Viaduto do Chá pelo térreo da galeria como uma reconciliação afetuosa entre as obras de Elisário Bahiana. Além da unidade obtida, é possível estimular a fluidez da cota pública a partir da diluição do limite entre dentro e fora, entre público e privado.


Assim como já se percebe em outras unidades do SESC, entendemos esta nova unidade como uma importante condensadora social que permitirá ampliar e complementar os serviços e eventos já ofertados na região central. Nesse sentido, as unidades da Consolação, 24 de Maio, Florêncio de Abreu, Carmo, 14 Bis e a futura unidade Parque D. Pedro II, poderão formar um sistema aberto e ainda mais virtuoso.


SESC COMO CONDENSADOR SOCIAL _ Já reconhecidas e consagradas, as unidades SESC configuram grandes indutoras urbanas que abraçam e revigoram a diversidade da vida coletiva. Assim como um condensador social “para gerar e intensificar formas desejáveis de contato humano”, como já escreveu Rem Koolhaas.


O SESC Galeria será ‘a cidade dentro da cidade’, o ‘centro dentro do centro’, acolhendo a cultura metropolitana e seus programas variados — interpretados de maneira a estarem articulados, ao mesmo tempo, de forma autônoma e complementar. Uma arquitetura plural e heterogênea para o uso coletivo com relação direta entre edifício, cidade e sociabilidade, e que entende que a “congestão”, em densidade e diversidade de usos e grupos sociais, é o que caracteriza e potencializa a existência de territórios programáticos sobrepostos dentro de arquiteturas de grande uso coletivo.
O corte longitudinal é o que melhor sintetiza a proposta, pois nele se demonstra como o projeto se apresenta aberto à espontaneidade da experiência. Os espaços e a ação de apropriação da estrutura existente propõem uma convergência entre a memória herdada de uma tradicional loja de departamentos e um lugar de agregação e sociabilidade. A dureza da metrópole paulistana encontra — na sobreposição de territórios programáticos — o direito à poesia da vida social cotidiana.
SUBTRAÇÃO COMO ESTRATÉGIA _ A ideia consolidada em proposta se apresenta de forma aberta a eventualidades que somente uma revitalização desse porte pode oferecer. A análise aprofundada das características históricas, construtivas e estruturais do Edifício João Brícola versus o programa de necessidades, nos leva naturalmente a um processo quase arqueológico, onde as “escavações” vão em
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busca da essência dessa construção e das suas virtudes para aproveitar e incorporar futuras e eventuais possibilidades.
Nesse sentido, as oportunidades descobertas favorecem a intervenção através de uma estratégia de subtração de elementos. Esse processo de depuração, de desprendimento de excessos, busca qualificar e diversificar a espacialidade do edifício, atendendo não somente uma condição programática, mas desenhando a partir dos vazios as ocasiões de subversão da espacialidade original.
A conquista da dimensão vertical da arquitetura avança para além da sua expressividade urbana e ocupa o interior do edifício, demonstrando-se através de um processo entrópico, onde a energia contida não se cria ou se destrói, somente se transforma. A arquitetura precisa tensionar o espaço.
RECONSTRUIR A PARTIR DAS INSTALAÇÕES 

Na sequência de diagramas à direita demonstramos de maneira simples e direta a reformulação proposta para o núcleo duro do edifício. Aproveitando a condição preexistente, maximizamos a atualização dos equipamentos e a otimização da espacialidade do Edifício João Brícola.


Entendemos que a unificação das rotas de emergência, principalmente pela descontinuidade das escadas atuais, não atende qualitativamente as condições que idealizamos para o futuro SESC Galeria. Da mesma maneira, o reposicionamento dos elevadores de apoio, compondo uma nova bateria em linha, atende às características de uso esperadas, assim como acontece em outras unidades SESC com programas verticalizados. A partir desse sutil ajuste de configuração, se conquista uma área concentrada de circulação horizontal em cada pavimento, onde teremos não apenas um corredor, mas um “largo de acolhimento” para cada novo território a ser explorado.


Alinhadas à divisa lateral, as instalações sanitárias e vestiários se concentram junto à fachada da Rua Conselheiro Crispiniano, assim como todo o programa de apoio junto à fachada da Rua Xavier de Toledo, aproveitando a conexão do elevador de serviço/monta-carga e o acesso às docas.


Essas decisões criam uma espacialidade que gera uma condição que nos parece importante - a subversão do programa inicial e a resposta aos usos imprevistos em cada pavimento-território. Esse ‘salto interpretativo’ do programa de necessidades é o que torna o SESC um espaço de acolhimento cativante e no qual apoiamos nossa proposta: a galeria de convivência partilhando de eventos e exposições, a comedoria recebendo espetáculos e atividades coletivas, o auditório flexível com espacialidades mutáveis, a área do café para livre apropriação - um edifício como a cidade, cambiante em usos, por horários, fluxos, públicos.


SISTEMAS ESTRUTURAIS

Nossa proposta concentra-se na revitalização da estrutura existente e em adaptações pontuais para o atendimento do novo programa de atividades previsto. O edifício conta com estrutura em concreto armado moldado “in loco” no sistema laje-viga-pilar, com predominância de lajes nervuradas. Demandarão, de uma forma generalizada, recuperações estruturais em função da exposição de armaduras por oxidação; vigas e pilares têm indicação de boa integridade no tempo e pouca necessidade de reparos. As intervenções idealizadas, considerando o melhor aproveitamento do edifício, desenham novos espaços com mínima modificação da superestrutura.
A principal alteração no sistema existente será a inserção de vazios pela supressão de panos inteiros de lajes nervuradas; essas aberturas, portanto, serão restritas, em grande parte, ao espaço entre vigas principais – o que resulta em subtração de peso na edificação e não compromete a resistência e estabilidade dos elementos estruturais remanescentes. A nova arquitetura proposta utiliza esses 3 vazios para criar fluxos de circulação vertical, promover iluminação natural e ventilação, alinhando-se a uma lógica racional de cheios e vazios.


Em alguns casos, as aberturas incorporam mais de um pano de laje e, por isso, suprimem também vigas principais; nesse contexto, as retiradas são realizadas entre os pilares, não sendo deixados trechos de vigas com novas situações estáticas – o que dificultaria a execução técnica. Importante ressaltar que, na maioria das situações de retirada de viga em um vão, ocorre a manutenção de viga existente na face oposta do pilar, na mesma direção, permitindo que o pilar permaneça em sua condição original de flambagem; porém, sempre que a perda de contenção lateral de um pilar ocorrer – em número muito reduzido no projeto – a proposta considera a possibilidade de implantação de novo perfil de aço associado ao pilar de concreto armado na sua direção fragilizada, de tal forma a restaurar o índice de esbeltez original da peça.


As novas circulações verticais propostas, incluindo elevadores e escadas, são inseridas em vazios gerados pela retirada das lajes existentes, que serão suportadas por perfis metálicos modulares, pré-fabricados e independentes, que convergirão para pontos de apoio previstos.


Os espaços de piso com novas funções arquitetônicas, quando tendo sobrecarga superior à do pavimento na sua situação original, poderão exigir reforços nas lajes e vigas; nesses casos é prevista uma solução técnica viável para a manutenção do pé-direito existente: o uso de lâminas de fibra de carbono, com ou sem protensão, sobre as peças; como as lajes deverão, segundo a perícia, ser restauradas de qualquer forma, a inclusão das lâminas de fibra de carbono deve ser continuidade natural deste serviço (quando necessárias).


Devido à pouca modificação estrutural, o edifício continuará com sua estabilidade lateral frente aos ventos garantida e, pela inserção de novas estruturas, até mesmo aumentada, se a proposta executiva avançar para uma associação delas com o sistema existente. Em suma, a proposta de intervenção foi cuidadosamente elaborada, promovendo revitalização e funcionalidade enquanto preserva a maior parte das características estruturais originais da edificação.


O PATRIMÔNIO HISTÓRICO E O RESTAURO 

Nesta etapa do projeto, buscamos identificar elementos que possam se configurar como testemunhos históricos relevantes da arquitetura e uso original, destacando-os ao público e subsidiando as decisões projetuais adotadas. As alterações internas feitas ao longo dos anos comprometeram a leitura do leiaute original, além de elementos decorativos, pisos e revestimentos da época.


Elementos Arquitetônicos: Foram propostas inserções que conectam a memória do edifício com sua nova vocação, reforçando o papel social da ambientação interna da arquitetura tombada. A valorização e resgate referencial da identidade do bem passa não apenas pela preservação das fachadas, mas também pela tipologia do uso original, que reforça sua memória. A relevância do imóvel deve ser reafirmada de maneira contemporânea nos interiores, como nas propostas de uso do TIJOLO DE VIDRO e REVESTIMENTO DE PEDRA nas praças do térreo e do 6º andar, e do VIDRO como filtro visual entre vitrine e espaço urbano.


Materialidade Estrutural e Técnica: O sistema construtivo em concreto armado, formado por pilares e vigas associados a lajes do tipo grelha nervurada, revela a engenharia da década de 1930. Nesse sentido, buscamos valorizar esse aspecto como testemunho técnico de época, trazendo à tona uma espécie de arqueologia da construção.


Escadas Mecânicas: As escadas rolantes, componentes marcantes inseridos pela antiga loja de 4 departamentos, representaram um avanço tecnológico em sua época e desempenhavam papel central no deslocamento vertical. São, hoje, parte do valor simbólico da edificação que que é retomado com destaque nessa proposta.


Restauro das fachadas: Deverá incluir mapeamentos de danos para identificar patologias e problemas de conservação nas áreas externas do edifício. Deverão ser mapeadas trincas, fissuras, rachaduras, infestações biológicas, raízes vegetais, infiltrações, sujidades, interferências indevidas, entre outros. Como parte da metodologia do projeto, será essencial a coleta de amostras da argamassa de revestimento composta por argamassa raspada, do tipo pedra fingida, para analisar seus traços e propriedades. Supõe-se a presença expressiva de mica, conforme trechos ainda visíveis da fachada.


Volumetria: O edifício João Brícola se destaca em sua volumetria por sua imponência vertical e sua forte presença urbana, significativo também de uma transição do Art Decó para um Expressionismo que se consolidava durante os anos 30 e que posteriormente alguns autores passaram a denominar como Protomodernismo. Com base robusta, sem recuos, alinhada na calçada e colada na divisa do lote, a verticalidade é acentuada pelas pilastras e por uma composição escalonada que, acima da base, desenvolve-se com um bloco retangular mais esbelto que reforça a simetria e ornamentações geométricas discretas. As aberturas horizontais compõem a volumetria no equilíbrio entre forma e verticalidade, enquanto a distinção volumétrica dos sete pavimentos superiores representa nitidamente as distintas hierarquias.


Fachada posterior: localizada entre o 6º andar e a cobertura, apresenta diversas modificações resultantes de acréscimos sucessivos de elementos, provavelmente feitos sem embasamento técnico adequado. Além do fechamento dos antigos poços de ventilação, observa-se a descaracterização das aberturas nas áreas de sanitários e a inserção de estruturas que conectam o edifício ao imóvel vizinho. A proposta visa requalificar esse trecho com base em sua configuração original, reintegrando esse segmento da fachada como parte essencial do edifício, e não como área remanescente, promovendo melhorias na qualidade espacial tanto nas áreas internas quanto ao entorno da edificação.


Vitrines: As vitrines do térreo serão recompostas e mantidas, e podemos destacar a recuperação e restauro das quatro vitrines semicirculares originais da fachada voltada para a Praça Ramos de Azevedo, que serão incorporadas também como elementos de iluminação para a cidade, e que atualmente se encontram descaracterizadas.
Iluminação: arquitetura da luz: O antigo uso comercial representou um marco urbano na paisagem do centro novo e do Vale do Anhangabaú, e sua presença noturna deverá homenagear a memória coletiva do antigo Mappin. Dessa forma, a luz dos espaços internos deverá revelar a vida no interior do edifício, sugerindo suas novas vocações culturais e sociais. Para a iluminação externa, propusemos elementos que reforçam a riqueza volumétrica da arquitetura e ressaltam com delicadeza a verticalidade da forma e a horizontalidade das aberturas. A marcação de luzes, ainda que com diferentes intensidades, busca uma iluminação tênue, de tom âmbar, que irá somar ao entorno já intensamente iluminado do Theatro Municipal e pelo Edifício Alexander Mackenzie – atual Shopping Light. Consideramos, também, a possibilidade do SESC Galeria celebrar eventos e datas festivas com variações luminosas, que estabeleçam conexão entre o SESC e a sociedade paulistana, assim como o Mappin tradicionalmente o fazia.

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