SENAC SALVADOR
Localização
Salvador, BA
Área do terreno:
7860,18 m²
Cliente SENAC/BA
Ano do concurso
2023
Autores
FIGUEROA.AA
Mario Figueroa, Gustavo Bondezan, Daniel Maioli,
Camila Rocco,
Erick Vicente,
Carol Moreira
COLETIVO DE ARQUITETOS
Guile Amadeu, Gustavo Fontes, Rodrigo Lacerda
Equipe |
Concurso
Pedro Paes,
Yasmim Castaldelli,
David Chang,
Gileno Jonas
Consultores
Estruturas
Eng. Ricardo H. Dias
Fundações e Mec. dos Solos
Eng. Eduardo Damin
Conforto Ambiental Arq.
Mônica Dolce, Arq. Eduardo Gasparelo
"Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção." Paulo Freire
Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996
[1] ESCOLA COMO TERRITÓRIO DE OPORTUNIDADES
Imaginamos que a ETC Senac poderia ter muito da Academia de Platão no que diz respeito ao seu interesse e dedicação aos novos saberes, um corpo organizado de conhecimentos em um espaço próprio para o ensino dentro da cidade. A Academia não era apenas edificações, apesar de tê-las, era um território considerado como um lugar público, ali havia um parque com alamedas, jardins e belas árvores, adornado com estátuas, templos e sepulcros de homens ilustres onde podia se compartilhar os conhecimentos durante caminhadas ou embaixo de uma generosa sombra.
Entendemos este concurso como a possibilidade de construção de um território de oportunidade, muito além de boas salas, uma escola se constitui de um lugar de encontro e compartilhamento, seja debaixo da sombra, nos corredores ou nos seus diversos jardins.
Propomos um edifício como manifesto: poroso, permeável e luminoso, uma sobreposição de acontecimentos espaciais e apto a formação de cidadãos. Um lugar onde os sonhos se encontram com a realidade. O ETC Senac oferecerá cursos e capacitações nas mais diversas áreas, desde gastronomia até moda, passando por design, turismo, saúde e tantas outras possibilidades. Será um universo de conhecimentos ao alcance da comunidade em uma instituição que acredita na importância da formação integral do indivíduo. Por isso, além dos cursos técnicos e profissionalizantes, a nossa proposta também oferece espaços e circunstâncias para atividades extracurriculares, eventos culturais e espaços para trocas de experiências.
Tudo isso para que cada pessoa se desenvolva plenamente em suas habilidades e potenciais. A ETC Senac foi idealizada como um espaço que valoriza a diversidade, onde todos têm a oportunidade de aprender, crescer e se realizar. Uma escola acolhedora, onde a pluralidade se transforma em força.
[2] O LARGO DE ACESSO COMO ACOLHIMENTO
O Largo como elemento urbano surgido do esgarçamento do encontro oblíquo de duas vias é uma das melhores contribuições portuguesas ao desenho das cidades brasileiras. Em Salvador temos sempre a impressão de que os melhores espaços públicos são “largos”.
Este espaço público, pequeno porém potente, foi incorporando a arquitetura moderna brasileira nos seus melhores exemplos como o MES, o MAM Rio, o MASP, etc. É o espaço urbano adentrando na arquitetura e se transformando naturalmente em espaço de acolhimento. Aqui, este espaço de acolhimento – absolutamente público – ganhou largura e profundidade para exercer com generosidade essa função estruturadora.
[3] SOBRE A ESPACIALIZAÇÃO DO PROGRAMA
Temos por aqui, como herança cultural, a busca da integração ou quase diluição entre os limites da arquitetura e da cidade. Neste concurso, dado a localização do terreno e suas dimensões, as restrições urbanísticas e as características do solo, a condição de verticalização inevitável do edifício, e do seu programa de necessidades, o desenvolvimento projetual impõe uma reflexão específica e sensível sobre a fluidez do espaço e as disposições espaciais tanto na cota zero - pavimento de acesso - como no deslocamento vertical.
O agenciamento das infraestruturas (circulações mecânicas, instalações prediais, etc.) nas bordas laterais do terreno e do próprio edifício, tem, entre outras coisas, a estratégia de liberação de uma planta livre.
A espacialização do programa e a definição por níveis programáticos específicos desde o início do processo projetual considerou o vazio central como elemento integrador. Um térreo elevado público/coletivo, e acima dele: Setor de Gastronomia e mezanino do Auditório, no 1º pavimento; Setor de Moda, Design e Comunicação, no 2º pavimento; Setor de Saúde, 3º pavimento; Setor de Tecnologia da Informação e Games, no 4º pavimento e finalmente, Setor de Idiomas Estrangeiros e Turismo no 5º pavimento, “flutuando“.
[4] O VAZIO ESCAVADO E OS JARDINS SUSPENSOS
Procuramos explorar uma distribuição programática que permite uma experiência espacial e temporal. Acreditamos que uma boa escola deve sempre ter um pátio, que às vezes é externo e descoberto, e às vezes interno e coberto. Este pátio, entre tantas outras coisas, pode ser como um relógio cósmico – no qual podemos observar e aproveitar o passar do tempo e as mudanças das estações.
O nosso pátio é o vazio central proposto que deverá ser dinâmico e integrador. Não nasce do que sobrou, pelo contrário, é o elemento que sempre estruturou os pensamentos e ordenou ao seu redor o extenso programa.
Para isso, a principal intenção foi a de construir um grande vazio, assimétrico e fluido, no qual os eventos cotidianos da ETC Senac estivessem vinculados entre si, e o volume resultante pudesse ser inundado de luz natural.
Nesse sentido, a resolução individualizada de cada terraço, conforme a sua localização, oferece a possibilidade de resgatar o encontro e a permanência, não somente dentro das salas de aula. Os terraços serão os locais de encontro, serão jardins suspensos, onde cada um poderá ver e ser visto.
Na evolução da história da escola, seria possível criar um capítulo específico sobre o pátio: o nosso pátio é vertical, um vazio de possibilidades. No desenvolvimento da ETC Senac, nos interessou exercitar esse enfrentamento das transparências e da profundidade e, principalmente, a maneira como a luz transforma o espaço através desse vazio.
“O inferno dos vivos não é algo que será; se existe, é aquele que já está aqui, o inferno no qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos. Existem duas maneiras de não sofrer. A primeira é fácil para a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornar-se parte deste até o ponto de deixar de percebê-lo. A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizagem contínuas: procurar e reconhecer quem e o que, no meio do inferno, não é inferno, e preservá-lo, e abrir espaço.” Italo Calvino, 1972
[5] CONSTRUINDO A PARTIR DAS INFRAESTRUTURAS
Quase que intuitivamente aprendemos a projetar pelas infraestruturas. Entender, estudando e ensinando, a poética dos espaços servidores e a responsabilidade dos espaços servidos.
A diferença de desenhar arquitetura e de projetar arquitetura é que na segunda opção o que se busca é a rara possibilidade de construir bem. Siza Vieira já sentenciou faz algum tempo: “a maioria dos meus projetos nunca foi realizado”. Não há arquiteto que não enfrente esse dilema.
Procuramos sem falsa modéstia apresentar uma proposta que pretende significar algo. Oferecemos um modo de pensar e construir para um lugar onde deverá se ensinar a aprender.
Esta ETC Senac nasce com essa expectativa apoiada na fé e na esperança de somente quem projeta e ensina tem. Concentrar as infraestruturas em Torres de Serviços passa pelo esforço de organizar um desempenho funcional que permita uma planta livre, livre o suficiente para que possa ser o que quiser. Para que daqui a alguns anos, se necessário for, permita transformações e reorganizações espaciais que outros partidos não permitiriam.
Não se trata de racionalismo construtivo, buscamos a possibilidade da liberdade, da permeabilidade e da leveza espacial. São essas duas torres, paralelas entre si e separadas por 30 metros de vão, que ordenam este pequeno território e defendem os diversos tipos de uso e os próprios usuários das intempéries.
A Torres de Serviços delimitam, mas ao mesmo tempo abraçam o conteúdo precioso que a ETC Senac BA virá a receber.