MUSEU MARÍTIMO DO BRASIL
Localização
Rio de Janeiro, RJ
Área Construída
8.823,50 m²
Ano do Concurso
2021
Cliente
Marinha do Brasil
Autores
Figueroa
Mario Figueroa e
Letícia Tamisari
Khoury Arquitetura
Danielle Khoury e Raquel Khoury
Equipe
Anna Carolina Cesar, Marcelo Venzon,
Larissa Napoli
Camila Medeiros e Mariana Piccoli
Expografia
Stella Tedesco, Giovanna Bianchini, Marina Pelosi e
Renata Fernandes
Comunicação visual
Alexsandro Souza
Consultores
Embarcções e flutuantes
Amyr Klink
Instalações Mecânicas
Mario Figueroa Monsalve
Iluminação Cênica e Espacial
Douglas Leonard
Sistemas Estruturais
Ricardo Henrique Dias
Reciclagem de Materiais
Victoria Garcia Munhoz
Sustent., Conf. Ambiental e Térmico
Monica Dolce, Eduardo Gasparelo
[1] NAVEGAR É PRECISO;
A ARQUITETURA TAMBÉM
Fernando Pessoa ao reinterpretar a célebre frase: “Navigare necesse; vivere non est necesse”, atribuída a Pompeu (general romano, 106-48 a.C.) exalta a tradição naval não pela necessidade, mas pela precisão. Navegar é uma ciência precisa, assim como a arquitetura. Ambas precisam de planejamento e conhecimento, já a vida é e sempre será imprecisa, imprevisível. Além disso, hoje mais do que nunca, navegar pelos oceanos do mundo é mais necessário do que viver ancorado na sua própria aldeia. Propomos um museu marítimo de construção precisa, mas de espaços generosos. Um museu que foi projetado para acolher a história e o conhecimento, com um permanente e corajoso espírito explorador.
[2] MUSEU MARÍTIMO DO BRASIL: ORGANIZAÇÃO PROGRAMÁTICA
O novo Museu Marítimo do Brasil (MMB) foi concebido como um “sistema binário”, dois edifícios (0 e 1) complementares programática e funcionalmente. A origem etimológica do termo zero encontra-se numa palavra do árabe clássico que se pode traduzir como “vazio”. Se na matemática o vazio (zero) é nulo, na arquitetura, é no vazio que acontecem os encontros, os eventos e a vida. O Edifício de Acolhimento junto a Orla concentra as atividades coletivas, de serviço e administrativas. Faz a mediação com a cidade a partir de um piso contínuo e convidativo, criando uma cota pública que se estenderá até o Píer. Entre os edifícios dois elementos distintos conquistam o “mar interior” que até agora era apenas das embarcações. O Flutuante do Largo, esgarça a fina tripa que conectava as áreas A e B. Assim como um largo urbano, funcionará com espaço de encontro e permanência. Já o Edifício que se eleva sobre o Píer, será construído apoiando-se nas novas fundações recentemente executadas. Ele libera o Píer para multiplicar a sua capacidade de atracamento, só que agora poderá ser feito debaixo de uma generosa cobertura que protege do sol e da chuva. O grande “contenedor” expositivo que flutua acima disso se organiza em dois volumes internos para atender a Exposição Temporária de um lado e a Exposição de Longa Duração do outro. Entre elas há uma conexão infra estrutural, composta por uma passarela e uma rampa, que associam diversas possibilidades de percursos e conexões. Na cobertura desta “nau” é criado um convés de lazer e ócio para apreciar a Baía de Guanabara.
[3] RECONSQUISTA DA FRENTE MARÍTIMA E OS FLUTUANTES
Apesar de termos no mundo muitos museus marítimos próximos à água, poucos aproveitam de maneira franca a relação com ela. Esses poucos são os melhores, pois provocam significativas mudanças urbanas. A nossa proposta para o MMB procura contribuir com a requalificação já implantada da Orla, oferecendo uma alternativa economicamente viável e flexível. No MMB não se chegará somente pela terra, como também pelo mar. Por serem de concreto, os flutuantes apresentam grande inércia, maior do que qualquer outro tipo de píer disponível hoje no Brasil. Essa condição se traduz em grande conforto, estabilidade e confiabilidade, além de permitir alto tráfego. Indicados para águas abrigadas e semi abrigadas, os flutuantes possuem uma capacidade de carga útil de 350 Kgf/m² e borda livre de aproximadamente 55 a 60 cm, o que permite facilidade de embarque e desembarque de pequena e médias embarcações.
[4] TRANSPORTE E DESLOCAMENTO DO ACERVO
Um dos principais desafios do projeto e do lote disponível foi a organização de fluxos, do embarque e desembarque de cargas do acervo e das futuras exposições temporárias. A experiência industrial e portuária de deslocamento de cargas ao mesmo tempo pesadas e delicadas permite um número significativo de opções. No entanto, para este caso poucas são viáveis, principalmente pela extensão decidida pela nossa proposta para o edifício expositivo. No caso do MMB a relação custo benefício passa pelo esporádico, porém fundamental movimento do acervo e das exposições temporárias. A nossa escolha recai em uma combinação de equipamentos propositalmente leves, mas de alta eficiência e desempenho que quando combinados permitem o transporte em todos os níveis em ambas edificações, atendendo com flexibilidade a demanda solicitada. Elevador de carga, guindastes hidráulicos articulados, carreta hidráulica de movimentação de embarcações e plataformas elevatórias de carga atenderiam as necessidades do museu de forma plena e eficiente.
[5] O REUSO DO PLÁSTICO DA BAÍA DA GUANABARA
A contaminação por resíduos plásticos ameaça os ecossistemas marinhos mundialmente. Com o passar do tempo, os resíduos carregados por correntes marítimas conformaram gigantescas agrupações denominadas Ilhas de Plásticos. A Ilha do Atlântico possui aproximadamente 12.700 toneladas de resíduos, dos quais 80% provém do continente. No caso da Baía de Guanabara, observamos um cenário desafiante para sua descontaminação, onde se registrou entre 2019 e 2020 mais de 520 toneladas coletadas, porém sem um destino claro. O plástico produzido pode durar mais de mil anos. Sua decomposição tem início no primeiro ano, sendo acelerada pelo contato com a água e o sol. Este processo libera substâncias tóxicas que contaminam o ecossistema marinho e entram na cadeia alimentar das espécies, alterando a produção de oxigênio e desequilibrando o estado do ecossistema. A Baía de Guanabara, infelizmente, apresenta os maiores índices de concentração de microplásticos no planeta. Porém existem soluções. Por meio de tecnologias inovadoras, hoje podemos pensar em alternativas para a reutilização deste material considerado lixo. Uma dessas tecnologias se chama UPCYCLING. Diferente da reciclagem, estes resíduos plásticos são processados, selecionados por sua composição e industrializados, gerando novas formas e aplicações para o plástico. A proposta para o MMB tem como um dos objetivos principais a contribuição ativa para minimizar drasticamente as ameaças ambientais na Baía de Guanabara por meio de um design arquitetônico sustentável. A coleta e industrialização do lixo plástico será a matéria prima para os brises das fachadas, a serem produzidos 100% de plástico encontrado e retirado da própria Baía de Guanabara.












