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Memorial do Covid FIOCRUZ

Localização  

Manguinhos, Rio de Janeiro, RJ

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Ano do Concurso   

2024



Area Construída

2500 m²



Cliente   

Fiocruz



Autores



Mario Figueroa,

Daniel Maioli,

Gustavo Bondezan

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Paisagismo



Gabriella Ornaghi, Bianca Vasone,

Lilian Dazzi,

Raquel Araruna​

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Estagiários



Pedro Paes,

Pedro Mosso,

Ariel Mateo Henríquez Poblete



Sistemas Estruturais 

Ricardo Dias



Médica

Camila Magalhães

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Nós somos o começo, o meio e o começo. Nossas trajetórias nos movem, nossa ancestralidade nos guia.’ - Nego Bispo, filósofo, poeta, escritor, professor, líder quilombola e ativista.



1. SEM MEMÓRIA NÃO HÁ FUTURO

Consideramos a questão da memória como um elo elementar para consolidar fatos coletivos e fortalecer nossa história enquanto humanidade. Atravessamos séculos de avanços nos mais diversos campos de conhecimento, enfrentando disputas territoriais, os desafios gerados no encontro do homem com a natureza e, ao longo do tempo, as diversas doenças e epidemias que afligiram a humanidade.



Este é um memorial concebido como um espaço que honra as vidas perdidas durante a pandemia da COVID-19 e que também serve como um local para reflexão, aprendizado e esperança para o futuro.

‘Mas o tempo linear é uma invenção do Ocidente, o tempo não é linear, é um maravilhoso emaranhado (...) - Lina Bo Bardi, arquiteta.



2. A HISTÓRIA

Há um esforço coletivo para organizar e assimilar a complexidade do mundo ao nosso redor. A historiografia ocidental predominantemente compreende a história sob o ponto de vista cronológico, muitas vezes apoiado em conceitos polarizados que reforçam uma visão classificatória e simplificada de se observar os acontecimentos históricos.  No entanto, diversas culturas têm suas próprias perspectivas sobre o tempo e a narrativa histórica, valorizando uma compreensão cíclica dele, enquanto outras têm tradições de história oral que enfatizam a continuidade e a interconexão entre eventos.  Portanto, apesar da história linear ser proeminente na tradição ocidental, ela não é a única maneira de compreender e contar histórias.



Estamos constantemente atravessando fatos e acontecimentos recorrentes ao longo do tempo, como numa constelação de confrontos com nuances e particularidades que desenvolvem o conhecimento e aprendizado através de gerações: a nossa verdadeira herança humanitária e coletiva.



3. O LUGAR

A oportunidade histórica de um Memorial sobre a COVID-19 no campus da Fiocruz em Manguinhos, Rio de Janeiro.

A humanidade atravessou várias pandemias ao longo da história, cada uma com suas próprias características e impactos. Em geral, as respostas variaram desde medidas de quarentena e isolamento social até avanços na medicina e vacinação.  Algumas pandemias bastante conhecidas incluem a Peste Negra, a Gripe Espanhola e, mais recentemente, a pandemia de COVID-19. Em cada caso, o impacto global, a disseminação de informações precisas e a inovação médica foram fundamentais para superar as crises.



O território escolhido é a mensagem mais forte apresentada neste certame, pois estabelece categoricamente a especificidade desse memorial – uma fundação pública de ciência e tecnologia em saúde, inserida em um campus amplamente vegetado. O terreno de projeto é ancorado ao Museu da Vida e dispõe de uma relação privilegiada de acesso ao instituto, possuindo um espelho d 'água entre as árvores.



4. NOSSA PROPOSTA: UM LUGAR PARA A MEMÓRIA

O espaço escolhido para receber o Memorial oferece uma grande potencialidade por distintas questões – localização, acessibilidade, vegetação generosa, etc. O que propomos é a construção de um lugar único, idílico, onde as memórias e os sentimentos sejam amparados pelas oportunidades desenhadas e pelos percursos a serem descobertos.



Todo memorial deve ser uma exceção, um hiato no tempo e no espaço, um lugar que permita ao mesmo tempo o isolamento para a reflexão e o encontro para a celebração.  A partir de uma leitura atenta do lugar (ver diagrama 01) abordamos o desafio de pensar o futuro Memorial. Nossa percepção da estrutura espacial existente é de uma situação de acessos, que apesar de tímidos e inadequados, estão claramente relacionados com o entorno imediato e as aproximações mais adequadas dos fluxos gerados pelas atividades que acontecem ao seu redor. Os eixos de penetração, apesar de frágeis e desarticulados, conduzem a um setor que oferece uma visão ampla, tendo o espelho d’água em primeiro plano. Desde esse ponto é possível perceber um eixo longitudinal imaginário, porém estruturador, em que diversos pequenos espaços, com grande potencial, orbitam ao redor dele.



Estruturamos a nossa proposta a partir de um binômio – ESTAR-PERCORRER – que permite abordar e oferecer uma percepção mais generosa sobre a experiência de visitar o Memorial. Entendendo a potencialidade desses pontos de acessos existentes, imaginamos a necessidade de serem transformados em lugares de acolhimento dos futuros visitantes (ver diagrama 02). No setor correspondente ao Memorial, a calçada existente é alargada e sua cota estendida para dentro do terreno, permitindo criar dois novos “vestíbulos” para oferecer ao visitante pontos de observação e de entendimento do conjunto proposto.



Estes eixos de acesso, que se dão por uma pequena escada-arquibancada e por uma suave rampa, vencem o pequeno desnível do terreno e as suas projeções se encontram justamente de baixo do pergolado metálico. Esse espaço, criado como um lugar de estar, reflexão e observação, permitirá o encontro e eventos de celebração.  Configurando lateralmente esse setor, uma grande peça de aço corten flutua à espera de mensagens e manifestações espontâneas dos futuros visitantes.



A cobertura se apoia em leves pilares metálicos, sendo que dois deles descarregam seus esforços sobre o muro de tijolos que ordena espacialmente este setor do Memorial.  Na esquina de acesso propusemos um menir, feito como pedra angular, que se apoia dentro do espelho d’água. Ele, assim como a água e o jardim, é um elemento ancestral, um marco que nos conecta com a atemporalidade dos eventos primordiais. É como se quiséssemos lembrar que esta pandemia não foi a primeira e nem será a última, mas que através dela poderemos começar a entender a nossa relação com os ciclos da própria existência humana neste planeta.



A partir daqui, deste lugar protegido, podemos acessar a passarela helicoidal, que

flutua sobre o jardim e o seu espelho d’água. Trata-se de um percurso espiralado, em plano inclinado, com um pendente inferior a 5%, no qual se atinge no ponto mais alto a altura de 4,25 metros acima do nível do solo, possibilitando um passeio junto à copa das árvores.



A vida é feita de ciclos, e nela precisamos valorizar e identificar os começos e os fins; por outro lado nos parece importante estimular a percepção da necessidade do deslocamento, de mover-se para conseguir observar os fatos sob outras perspectivas.  Para Buckminster Fuller: “no universo não existe em cima ou embaixo, existe apenas o que está dentro e o que está fora”.



A ÁGUA, A PEDRA E O JARDIM

A ÁGUA: elemento essencial para a vida e que para muitas culturas e religiões simboliza purificação. Provavelmente a água tenha sido o primeiro tratamento médico idealizado pelos nossos ancestrais. Usamos a água aqui também como espelho, para multiplicar o espaço e a natureza, para refletir o memorial e os visitantes.



A PEDRA: optamos por usar totens de granitos para balizar momentos e servir de suporte, não somente físico como no caso do apoio da cobertura, mas também de informações sobre a COVID-19, a ciência e a saúde, que serão compartilhadas com os visitantes. A ideia do MENIR serve para marcar simbolicamente este território permitindo transferir para as temáticas expositivas escolhidas uma condição de atemporalidade necessária para qualquer memorial.



O JARDIM: conceitualmente o jardim não é um complemento, será a alma viva do memorial. Apostamos no desenvolvimento das espécies selecionadas. O Memorial estará sempre em movimento e transformação, nesse sentido, a arquitetura da paisagem constrói uma narrativa própria e protagonista para a qualificação dos espaços idealizados.

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