HABITAÇÃO DE INTERESSE SUSTENTÁVEL
Localização
Teresina – PI
Área Construída
5.900 m²
Ano do Concurso
2021
Cliente
IAB - Distrito Federal
Autores
Figueroa
Mario Figueroa
Boldarini Arquitetos Associados
Marcos Boldarini, Lucas Nobre
Dolce Arquitetura e consultoria Mônica Dulce
Ricardo Henrique Dias
Eduardo Gaspareto Lima
Equipe
Anna Carolina Cesar, Larissa Napoli, Matheus Borges, Patricia Miho Tsunoushi, Felipe Grippa e Fábio Belucci.
[1] HABITAÇÃO DE INTERESSE SUSTENTÁVEL
O habitar sustentável por essência é coletivo. O tema da sustentabilidade nas cidades brasileiras tem adquirido cada vez mais destaque na agenda urbana, colocando-se como diretriz básica nas diversas ações no âmbito das políticas públicas e em muitas ações promovidas por agentes privados no setor da habitação. Os esforços em difundir a noção da sustentabilidade em habitação reforçam a importância da promoção de melhoria da qualidade de vida para a população ao mesmo tempo em que buscam enfrentar os desafios das mudanças climáticas em curso. Tais ações sinalizam avanços na mudança de paradigmas na cadeia produtiva da construção civil que podem ser observados a partir da adoção de novas tecnologias por meio de sistemas construtivos industrializados como o Light Wood Frame adotado para a nossa proposta. A produção e montagem deste sistema construtivo tem apresentado expressiva redução na emissão de gases de efeito estufa, na geração de resíduos, no uso de recursos hídricos, além de outros benefícios que diminuem o impacto negativo da cadeia produtiva da construção civil sobre o meio ambiente. É importante ressaltar também, que este tipo de sistema construtivo, já conta com uma produção significativa no Brasil de habitação coletiva, inclusive de interesse social, a qual já se encontra homologada nas principais agências públicas assim como no próprio Sistema de Financiamento de Habitação.
[2] A QUADRA COM OCUPAÇÃO PERIMETRAL E O EDIFÍCIO LAMINAR
Passados 100 anos, parece oportuno reflexionar sobre experiências como as de Amsterdã Zuid (Berlage, 1915-25). Ocupar o perímetro da quadra, permite: o diálogo com a cidade, o desenho qualificado das esquinas, e a valorização do espaço interno da quadra como espaço coletivo. Destas experiências podemos dialogar também com a ventilação cruzada das unidades e da importância da qualidade das fachadas internas. O fechamento nas extremidades se dá por equipamentos coletivos ao Norte e pelo Comércio e Serviços ao Sul, devido a relação com a Via Principal. A escolha pela forma laminar basicamente garante: ausência de hierarquia entre as partes, capacidade de crescimento ilimitado, equivalência de condições para os distintos elementos e a relação de proximidade entre o espaço interior e o espaço exterior.
[3] ESTRATÉGIA DE IMPLANTAÇÃO
A disposição das edificações no alinhamento da quadra favorece as relações entre os espaços ocupados de uso privado e os espaços livres de uso coletivo. Uma sintonia que delimita a interface entre os usos e atividades que acontecem no interior da quadra, daqueles que se dão no seu entorno. O modo de viver e projetar muda de sentido ao longo do tempo, permitindo a recuperação de experiências anteriores às novas demandas da sociedade na atualidade. A inserção e orientação do conjunto arquitetônico visa potencializar sua integração às características do contexto urbano sugerido ao propor usos não residenciais voltados às vias principal (face sul) e secundária (face norte). Os edifícios ocupam 50% da quadra, com tipologias variadas, com possibilidade de atender diferentes perfis socioeconômicos, raciais e de gênero, sendo sensível para uma sociedade mais justa e sustentável. A criação de um pátio interno à quadra, de uso coletivo oferece aos seus moradores uma área de lazer combinada às demandas por área de estacionamento, delimitados por elementos de projeto que estabelecem unidade ao pátio interno, ao mesmo tempo em que promovem segurança às áreas verdes e de lazer.
[4] FRAÇÃO DO CONJUNTO ARQUITETÔNICO
A proposta foi organizada em blocos de edificações, com sistemas estrutural e de instalações prediais autônomos, dispostos lado a lado. Compreendem duas soluções de arquitetura com a finalidade de atender o programa de necessidades. Uma, de planta-tipo, composta por 2 U.H. com 2 dormitórios e circulação vertical centralizada. A outra, de planta-tipo composta por até 4 U.H. por andar, variando a disposição das mesmas com 1, 2 e 3 dormitórios e nessa solução há circulação vertical a cada duas unidades. A estratégia de módulos independentes se alinha à racionalização do sistema construtivo industrializado ao mesmo tempo em que favorece a acomodação dos edifícios no terreno sem a necessidade de grandes movimentações de terra ou obras de contenção. A solução adotada para este projeto arquitetônico associada a tecnologia empreendida otimiza a construção dos empreendimentos habitacionais, à medida que o processo de fabricação resulta em componentes (módulos) pré-fabricados permitindo seu envio a qualquer local no Brasil.
[5] UNIDADES DE HABITAÇÃO: TIPOLOGIAS
O conjunto é composto por 70 unidades habitacionais com tipologias de 1, 2 e 3 dormitórios, com dimensões de 43,48 m², 53,21 m² e 63,80 m² respectivamente. Destas unidades 42 são de 2 dormitórios e as demais são divididas entre unidades de 1 e 3 dormitórios. A solução adotada optou pela disposição das aberturas dos cômodos para as faces leste e oeste que favorecem tanto o conforto térmico das unidades, por meio da ventilação cruzada e insolação nos ambientes como a interface direta com a rua e com o pátio interno do conjunto.
[8] SISTEMA ESTRUTURAL E CONSTRUTIVO
As edificações têm no sistema “Light Wood Framing”, considerado no PBQP-H, as vantagens de uma construção leve – estruturada por madeira tratada de florestas plantadas – e de rápida montagem: composições de painéis formados por montantes associados a placas enrijecedoras (de OSB). Por ser solução industrializada não ocorrem desperdícios; além disso, árvores crescem sequestrando carbono e, no transporte horizontal e vertical da madeira, pela baixa densidade do material, é diminuído o consumo energético frente a outras possíveis soluções. No projeto as paredes são estruturas portantes das forças gravitacionais e estabilizantes frente à ação dos ventos, ao mesmo tempo que contêm elementos que as caracterizam como fechamentos adequados ao conforto termoacústico e com resistência ao fogo; sendo leves poderão transferir as ações para fundações rasas – adaptáveis a diferentes topografias: radiers e sapatas corridas são previstos. As instalações, de uma forma geral, poderão passar pelas paredes e serão, em grande parte, instaladas ainda em fábrica durante a montagem do painel. Os entrepisos são quadros estruturais compostos por barrotes autoclavados enrijecendo chapa de OSB (em áreas secas) ou chapas de compensado (em áreas molhadas) – vencendo os vãos propostos entre as paredes. Os quadros aceitam revestimentos distintos, previstos no projeto, sobre contrapiso de base cimentícia e, de acordo com o dimensionamento, diferentes níveis de carregamento poderão ser aplicados nos painéis. Os painéis no sistema “Light Wood Framing” que compõem os planos de parede, piso e cobertura das edificações projetadas poderão ser integralmente executados em fábrica – já contendo estrutura, fechamentos e instalações, sendo enviados à obra embalados e prontos para a montagem. Além disso, é esperada grande produtividade no canteiro de obras: montagem de 3 m²/homem*hora, ou seja, execução até 3 vezes mais rápida que a de uma alvenaria convencional.
[9] CONFORTO AMBIENTAL
O projeto foi concebido de modo a se adequar ao clima local. Para a Zona Bioclimática 8 as estratégias de condicionamento natural térmico indicadas são a ventilação natural e o sombreamento, assim todo o módulo proposto dispõe destes recursos em todos os ambientes. Já na Zona Bioclimática 3 há a necessidade da utilização de ventilação e sombreamento nos períodos quentes com cautela no desenho dos dispositivos, uma vez que nos períodos frios a ventilação deve ser controlada e é desejável o acesso ao sol. A implantação foi pensada com as aberturas das habitações a favor do vento predominante e as demais fachadas protegidas por meio de empenas cegas em cores claras ou geminada à outra unidade habitacional ou circulação. A aplicação do recurso da ventilação natural foi viabilizada por meio da ventilação cruzada com aberturas em faces opostas e pelo efeito chaminé com possibilidade de aberturas em diferentes níveis, fornecendo flexibilidade aos usuários para as adaptações necessárias às variações climáticas locais. Os brises externos compõem a forma do módulo por meio de dispositivos horizontais e de muxarabis afastados das aberturas. Tal solução controla o acesso direto ao sol nas fachadas com aberturas translúcidas, sem impedir a percolação dos ventos e o acesso à luz difusa. Quanto à iluminação natural, foi dada preferência às cores claras nos revestimentos internos. Os estudos de autonomia de luz diurna (DLA) elaborados para unidades no térreo da implantação, demonstram em ambas as latitudes bons resultados. Para a latitude 5°S (ZB8, cidade de referência: Teresina-PI) os dormitórios têm autonomia de luz natural acima de 80% das horas do ano, enquanto a sala e cozinha têm mais da metade dos ambientes com autonomia acima de 50% das horas. Na latitude 30°S (ZB3, cidade de referência: Porto Alegre-RS) os dormitórios, sala e cozinha apresentam autonomia acima de 50% das horas em mais da metade dos ambientes. O desempenho acústico, tem como característica a estratégia de isolamento sonoro “massa-mola-massa” e, ainda, foi acrescido material absorvente acústico (lã de rocha) entre as placas com o intuito de incrementar o isolamento.