CAU/SP
Localização
São Paulo, SP
Área Construída
4.273,00 m²
Cliente CAU/SP
Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo
Ano do concurso
2022
Autores
Mario Figueroa,
Erick Vicente,
Camila Rocco,
Daniel Maioli,
Gustavo Bondezan, Guile Amadeu, Rodrigo Lacerda, Gustavo Fontes
Equipe |
Concurso
Marcelo Venzon, Natália Herrera,
Luna Viana,
David Chang,
Haron Gabriel
Consultores
Restauro e Patrimônio
Igor Carollo
Estruturas
Ricardo H. Dias
Instalações Prediais
Wolf Engenharia
Prevenção e Combate à Incêndios
Ana Paula Flores
POR UMA POLÍTICA DE OCUPAÇÃO
BREVE CRONOLOGIA E ANÁLISE
Este edifício de fachada eclética, projetado por Ramos de Azevedo em 1920 na Rua XV de Novembro, dentro do triângulo histórico de São Paulo, foi originalmente idealizado para abrigar o Banco Português do Brasil.
Em 1934 e 1949, foi reformado, pelo então “Escritório Técnico Ramos de Azevedo – Engenharia – Arquitetura – Construções - Severo e Villares S.A”. Posteriormente, o edifício passou por outras quatro reformas e alterações de uso de 1949 à 2007, até a sua aquisição pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo em 2019.
O antigo Banco Português, idealizado em quatro pavimentos, apresentava em seu interior pilaretes em ferro fundido, afrescos e estuques decorados com motivos das expedições portuguesas. As reformas sucessivas resultaram em um novo edifício com dez pavimentos, planta livre e a supressão das ornamentações internas. Essa série de ampliações e reformas descaracterizaram o edifício gradativamente, principalmente na sua espacialidade e materiais de acabamento.
DIRETRIZES DE INTERVENÇÃO
O projeto propõe o resgate das memórias do percurso cronológico da edificação, assumido e evidenciado pela estrutura como marco temporal das transformações internas, por meio de prospecções e estratificações nas empenas laterais internas, o engaste das antigas vigas e suas posteriores adições e supressões construtivas. As escolhas projetuais buscam costurar as narrativas através das conexões visuais entre os pavimentos, englobando períodos sobrepostos uns aos outros e constituindo em parte a identidade do edifício, imprimindo na arquitetura o curso das idades.
A intervenção na fachada principal não presume o tempo como reversível, mas se propõe a retomada da unidade potencial da obra para a completude da leitura do edifício. Desta maneira, indicamos a substituição da caixilharia atual introduzida em meados de 2002 por uma nova caixilharia de alumínio, com caráter de distinguibilidade, que se apresenta como estratégia para recompor o ritmo e sistema de abertura dos caixilhos tal como no projeto original, desenhado por Ramos de Azevedo e Severo Villares.
Ao permitir a leitura dos sinais da passagem do tempo, tornamos a arquitetura um veículo de comunicação entre os períodos históricos, questão vital para a compreensão das transformações urbanas e das demandas que exigem dos edifícios reformas e adaptações constantes.
As diretrizes projetuais de preservação da memória extrapolam os limites do lote, propondo também a introdução do calçamento português no pavimento térreo, tutelando a paginação que tão logo será removida de todo o centro, dando lugar ao piso de concreto modular.
A salvaguarda da historicidade da edificação é assumida por este projeto como meio para a construção de novas memórias, compreendendo a Arquitetura e o Patrimônio como um livro infinito de páginas em branco, que fornece subsídios para a criação contemporânea, em sua materialidade e imaterialidade.
A estratégia adotada propõe três operações básicas. A primeira operação trata do RESTAURO, da recomposição da fachada original conforme diretrizes já tratadas acima. A segunda operação, propõe o DESMONTE da parte posterior do edifício. As adições mais recentes, geram uma congestão espacial e programática que inviabilizam a revitalização como um todo.
As escadas e sanitários e demais instalações não atendem as necessidades mínimas da renovação programática, assim como das condições mínimas de segurança. A falta de racionalidade construtiva acumulada nas distintas intervenções, tornam muito mais eficiente o desmonte total das instalações pela simples constatação da oportunidade da simplificação espacial e mudança de desempenho técnico-econômico que o edifício ganharia.
Por outro lado, a segunda operação exige a construção de uma nova estrutura para abrigar todas as instalações mencionadas.
TERCEIRA OPERAÇÃO: RECONSTRUIR A PARTIR DAS INSTALAÇÕES
Propomos edificar uma torre técnica, estrategicamente localizada, independente e centralizada em frente aos novos elevadores na parte posterior da edificação. Dessa maneira, configuramos uma nova circulação horizontal para todo e qualquer pavimento. A circulação ao redor da nova torre técnica, traz uma série de vantagens: [A] configuração do vestíbulo dos elevadores, [B] ordenador dos eixos longitudinais de circulação horizontal por pavimento e [C] organização espacial de serviços e acessos.
Complementam a torre técnica, uma nova escada de emergência, pressurizada e com dimensões que atendem as normas de segurança. Ao lado, junto aos vazios já existentes dos dois elevadores, um terceiro elevador é proposto para atender um desempenho adequado ao uso previsto para a edificação. Assim, o novo aparece de modo claro, constituindo uma nova unidade, uma integralidade contemporânea dos espaços projetados para o novo CAU-SP.
DEMOLIÇÕES E NOVA ESTRUTURA
Nesta proposta para a reforma da sede do CAU-SP há pouca intervenção na estrutura existente, sendo a principal delas a demolição dos núcleos de circulação vertical locados na porção posterior do terreno – que serão substituídos por nova composição contendo paredes estruturais em concreto armado moldadas “in loco”. Do ponto de vista de comportamento da edificação vertical (quanto às respostas contra as ações gravitacionais e laterais) nada será alterado, já que os novos núcleos terão funcionamento similar aos antes existentes.
As estruturas de concreto armado presentes nos planos dos pavimentos – lajes apoiadas em vigas paralelas lançadas na menor dimensão da planta – foram amplamente preservadas; foi proposta apenas uma demolição localizada numa região junto aos novos núcleos estruturais que não afeta o comportamento das áreas remanescentes, dada a condução (de cargas) unidirecional do sistema; a nova estrutura proposta tem o mesmo arranjo. No nível do mezanino foi criada uma extensão de área que será executada – com estrutura independente – no sistema de laje maciça enrijecida por vigas unidirecionais; as vigas irão se apoiar nas paredes estruturais existentes nas divisas do edifício, já que a intensidade das novas forças é pequena.
Sobre o nível da cobertura hoje existente é proposto um novo pavimento coberto – avançando em balanço a partir dos remodelados núcleos estruturais até antes da fachada frontal. A independência estrutural proposta é viável considerando duas vigas-parede nas laterais deste volume, ligando piso e teto, que sairão engastadas das paredes estruturais dos núcleos e travadas lateralmente pelas lajes maciças e vigas propostas na cobertura; terão inércia suficiente para receber as cargas sem deslocamentos excessivos, e resistindo aos esforços; as paredes dos núcleos, ainda a serem construídas, serão dimensionadas para o equilíbrio do sistema – assim como as novas fundações.